quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

(Entre parêntesis)

(Sempre fui de ciências, de discurso direto, frontal, de raciocínio rápido e pensamentos nunca abstratos. Sempre gostei de escrever, mas tudo o que escrevia me saía sem floreados e sem grandes metáforas. Porque para mim a vida não tem metáforas e não há floreados que nos valham quando as coisas não estão bem. Também, para quê complicar quando podemos dizer o que há para dizer e pronto? O problema é quando nem isso me sai. Nem o básico. Às vezes, tenho uma ânsia enorme de falar e expulsar tudo aquilo que me entope. Tudo aquilo que me tira o sono ou, pelo menos, que me faz demorar a adormecer (que, sinceramente, é pouco o que me faz ficar acordada durante toda a noite). Mas nada me sai. As palavras ficam grudadas no meu interior, agarradas como gosma; não sei se nos pulmões e, por isso, não as consigo sequer expulsar, ou se se acumulam já só nas cordas vocais. Muitas delas, estou certa, não chegam sequer a passar numa única sinapse; não passam de pensamentos, não percorrem sequer um nanómetro do sítio onde são formulados. Mas as que se acumulam já nas cordas vocais, era só um empurrãozinho e elas vinham cá para fora. Mas então, porque não tenho eu força suficiente para isso? Porque que é que esta inércia que de mim se apodera tem de ser mais forte? É que nem era preciso estar com grandes discursos; não eram precisas grandes metáforas. Afinal de contas, era tão fácil. Bastava um simples 'gosto de ti'.)

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