terça-feira, 20 de setembro de 2016

Um mês. O tempo voa.

Fez ontem um mês que acordei com a chamada da minha mãe a dizer-me aquilo que eu, assim que vi o nome dela no visor, adivinhei. A minha avó tinha falecido. Nem sei dizer aquilo que senti naquele momento. Um misto de desorientação, sem me conseguir concentrar para encontrar transporte que me levasse para casa, para junto dos meus, uma tristeza imensa por aquela que foi uma das minhas mães ter precisado sofrer tanto para partir e, ao mesmo tempo, um alívio tão grande porque, finalmente, ela tinha partido e tinha deixado de sofrer. 

Foram oito meses horríveis. No dia 2 de janeiro foi-lhe diagnosticado um tumor cerebral. Ela já não andava bem há algum tempo, mas todos os médicos a que íamos nos diziam que ela estava com uma depressão. Nunca me conformei com este diagnóstico. Se conhecessem a minha avó percebiam porquê. A vida dela sempre foi de muita luta e nunca, mas mesmo nunca, a senti ir abaixo. Não seria agora, numa altura em que as coisas estavam completamente serenas, que ela se iria abaixo. Até que no dia 2 lhe dá uma convulsão e seguimos com ela para Coimbra. E, daí, veio a pior notícia que se pode receber. E eu, infelizmente, estava certa. Não era uma depressão. A partir daí foram altos e baixos. Embora soubéssemos o desfecho desta situação, na verdade, nunca pensámos que, de facto, isso iria acontecer. Se vissem como ela ficou após a cirurgia a que foi sujeita para remoção do tumor iriam perguntar-se com era possível aquela mulher estar com um cancro cerebral. Ninguém quis acreditar na recuperação quase imediata que ela teve. Foi um ânimo vê-la assim. Parecia nova! E mesmo os médicos também apostaram tudo nela. E a nossa esperança renasceu novamente. Até que após uma consulta de oncologia ela apanha uma pneumonia. E, a partir daí, foi sempre, sempre a piorar. Até ao dia 19 de agosto. É impressionante como não somos nada. Uma pessoa de setenta anos, completamente autónoma vira um vegetal em meia dúzia de meses. É inacreditável. Ainda hoje não acredito. Não é possível a minha avozinha já não me esperar em casa sempre que eu regresso do Algarve. E se o mês de agosto já não era, para mim, o mais feliz, a partir deste ano, torna-se, efetivamente, o mais triste. Agosto. O mês em que fiquei órfã de avós maternos. E as saudades são imensas.

domingo, 10 de abril de 2016

Isto não anda fácil.

Saber que piora a cada dia que passa está a matar-me aos poucos. Não quero perder a minha avó. Não assim, tão de repente, sem ter tempo para me preparar. Não assim em meses. Quero voltar a ter esperanças, mesmo sabendo que nada vai resultar. Doença de merda.

domingo, 3 de abril de 2016

Uns têm filhos, eu tenho uma avó

Apesar de tudo o que lhe tem acontecido nestes últimos meses, ela mantém a boa disposição. Depois de ter deixado os corticóides, que ainda são os únicos medicamentos que lhe dão alguma qualidade de vida, ela perde a capacidade de andar com facilidade e mudar-se do quarto para a sala, passando pela casa de banho e cozinha, é uma autêntica tortura na maioria dos dias. Foi decidido, então, comprar-se uma cama articulada para que ela pudesse ficar no quarto nos dias em que estiver pior. Nisto vira-se e pergunta à minha mãe: "a cama que encomendaram traz campainha? Se não traz é comprar que eu posso precisar de vos chamar durante a noite e assim uso a campainha". Está feita uma rainha! :)

quinta-feira, 17 de março de 2016

Acabou.

A uma semana da Páscoa. Tenho tido um ano mau, muito mau. E agora, a uma semana da Páscoa percebi. Acabaram-se os folares da minha avó.  E as sopas ao borralho. E as favadas com batata nova acabadas de colher.  Este ano não há maratonas que começam de madrugada para fazer as fornadas de bolos da Páscoa para nós e para os vizinhos. Nem haverá nos próximos anos.  Porque ninguém os faz como ela. E eu choro. Choro desalmadamente. Não por não voltar a comer algo com o sabor que só ela sabe dar a estes pratos. Mas por tudo o que isso significa. Caiu-me a ficha agora. E só me apetece desaparecer.